Muito embora o assunto relatado pelo padre Timon tenha causado viva impressão em todos os ocupantes de Gorki, Carol Trein e Fabiana decidiram passear pelos verdes campos próximos ao castelo. Ambas escolheram cavalos brancos e fogosos, galopando ao sabor do vento. Já um pouco longe de Gorki, Fabiana começa a sentir estranha e conversa com Carol Trein:
- Carol, este ambiente, esta floresta adiante me parece tão familiar e nunca estive nela, me chama e tenho medo.
- Aquiete-se Fabiana, este é a floresta de Molay, ela realmente é estranha, contam muitas histórias dela, mas não sei se são fatos ou lendas, assim como as histórias do Padre Timon.
- Tu achas prudente Carol, nos aproximar e entrar nela?
- Já estive outras vezes aqui, mas nunca entrei e confesso que estou curiosa, e além do mais agora é de dia, o que poderia nos acontecer?
E galoparam em direção a Molay.
Dois vultos a cavalo observavam a cena dentro de Molay, um homem e uma mulher. Ele, montado em um cavalo negro, com sela vermelha e vestido com uma cota de malha preto com o símbolo de dois triângulos vermelhos no peito e ela, vestido com um longo vestido azul com faixas roxas em torno da cintura.
- O que você acha Zatorsky? A caça vindo direto em nossa direção. Será que é o momento de agir?
- Vamos ver Juliana, acho que é bom elas entrarem em Molay primeiro e depois poderemos agir, não pretendo ser impulsivo demais nesta hora. Isto poderia atrapalhar a nossa iniciação.
- Mas tu realmente acha que conseguiremos o sangue delas para a cerimônia de iniciação desta noite? Não seria arriscado e precipitado de nossa parte?
- Se agirmos como a Sarah nos disse, não teremos problemas nenhum.
Carol Trein e Fabiana entram em Molay distraidamente e observam as belezas do lugar, a copa das árvores, os passarinhos cantando e encantadas, observam uma frondosa fonte em um canto:
- Olhe Carol, uma fonte! Elas se dirigem até a fonte e descem de seus cavalos, observando a limpidez de suas águas. Timidamente tentam colocar os pés na fonte para verificar a temperatura das águas.
- Está boa, vamos tomar banho nela Fabiana?
- Estou com medo, será que não tem ninguém por perto? Sinto que nos observam, e tenho uma má impressão sobre estas águas.
- Não seja boba, eu vou tomar banho nesta água maravilhosa.
Carol despe seu vestido, e seminua, entra na fonte.
- Venha, venha, está muito bom
Aquelas palavras vencem as resistências de Fabiana e ele também despe seu vestido e entra na fonte.
Por trás de árvores próximas da fonte, Zatorsky e Juliana Marotti apenas observam.
- São realmente bonitas e como tem corpos perfeitos.
- Zatorsky, não custa lembrar-lo que os prazeres de tua carne são privilégios meu e da Sarah, aqueles corpos são apenas nosso instrumento de trabalho, e não devem resistir à água da fonte, logo, logo, o poder da Sarah vai fazer efeito e teremos que agir rápido.
Elas animadamente se banhavam na fonte, quando Carol começou a sentir tonturas.
- Fabiana eu realmente estou me sentido meio tonta, vou sair da fonte, porque não estou conseguindo me equilibrar dentro da água.
Fabiana auxilia Carol Trein a sair da fonte, mas estava também sentindo tonturas, porém em intensidade menor. Tentando vencer os sintomas da vista embaralhada e da sensação de peso excessivo em suas pernas, Fabiana cai no solo, ao lado de Carol que pesadamente se projeta no solo.
Juliana Marotti e Zatorsky se aproximam devagar e descem de seus cavalos.
- Muito bem doutor, chegou nossa hora, sabe o que fazer?
- Claro que sei Juliana.
Nisto Zatorksi e Juliana aproveitam e despem Carol Trein e Fabiana, abrem um pote com um creme de cor rubi e aplicam-no em toda a região do baixo ventre. O doutor retira de uma pequena caixinha, duas seringas de vidro e injeta um liquido cor de âmbar na região das coxas de ambas as meninas.
- Pronto, agora é só retirar o sangue antes que o liquido desfaça qualquer vestígio do nosso creme, com habilidade Zatorsky retira o sangue da região do púbis e após Juliana começa a fazer a recomposição das roupas das meninas.
Após cuidadosamente armazenados em dois estojos de veludo escuro com símbolos cabalísticos em sua tampa, Juliana Marotti e Zatorsky se olham pela primeira vez em Molay e o sentimento nostálgico os toma de repente.
- Juliana, este lugar me deixou melancólico, ignoro as causas, mas de súbito me tomou a impressão de que já vivenciamos as mesmas cenas, e gostaria de dizer uma coisa: Eu te amo!
E após se aproximou dela e fez um carinho em seus cabelos, acariciou o seu rosto e lhe deu um terno beijo, os braços se cruzaram por sobre os ombros e as palavras naquele momento não pareciam de pessoas que tinham feito um estranho ritual e sim de jovens apaixonados, de mãos dadas e olhando um para o outro com candura, eles chegam em direção as suas montarias com seus apetrechos.
Ao chegar próximo de seus cavalos, ouvem uma gargalhada tétrica:
- Que tocante, os dois pombinhos não resistiram à magia de Molay? Esqueça, o amor de vocês é amaldiçoado há mais de 600 anos. Vocês não podem entregar seus corações a este reles sentimento. Aprume-se que temos muitas coisas para fazer para a cerimônia de iniciação no castelo, hoje à noite. Sarah olha para os dois com muito desdém
- A partir de hoje vocês terão apenas compromisso com Mestre Leonardo, e por isto lembrem-se que, quem receber o sinal luciferiano abdica de finais felizes, temos apenas seguir a ordem das sombras: Poder e cobiça para sempre! Que a sombras reinem eternamente.
Visivelmente constrangidos, mas já recompostos eles se dirigem para o Castelo de Komedhor.
Após a saída deles de Molay, Carol Trein e Fabiana acordam; lentamente vão recobrando a consciência e situarem onde estão.
- Carol o que houve? Desmaiamos ou foi apenas ou sonho?
- Creio que nos sentimos mal e perdemos os nossos sentidos, mas vamos nos vestir e retornar a Gorki. Ao levantar de súbito, Carol Trein sente uma pequena fisgada na coxa:
- Ai, que dor esquisita, será que quando cai bati no chão com a coxa, estou sentindo uma dor, que apesar de ser fraca, está me incomodando.
- Também estou sentindo, mas acho que foi a posição que ficamos na hora que caímos.
Elas olham para o céu e não tem a certeza de que horário era e quanto tempo passou desde que elas desmaiaram, apesar de tudo, os cavalos estavam no mesmo lugar onde foram amarrados.
Após montarem e saírem rapidamente da floresta, as águas da fonte lentamente voltam a se mostrarem lodosas, com cor verde escura e com muitos musgos e cogumelos ao seu redor.
Ao chegarem a Gorki, as moças foram repreendidas e proibidas de retornarem sozinhas suas cavalgadas.
Louis La Fonte havia se afastado para retomar suas atividades em Paris, mas ficou vivamente preocupado com as histórias do Padre Timon, decidiu que procuraria um antigo amigo que morava em Clichy sous Bois, para que ele o ajudasse a entender aqueles fenômenos narrados pelo religioso.
As Famílias La Fonte e Surotsev passaram um dia agradável com Eric supervisionando suas propriedades e levando Paulo para acompanhar-lo, a Condessa conversava com Juliana Fornazier e Érica brincava com Nympha. Somente Carol Trein e Fabiana ficaram isoladas comentando seus desconfortos no abdômen.
- Carol, estou com uma dor esquisita na barriga, a dor vai e vem e por vezes, ela desaparece.
- Tenho a mesma sensação e pior é o gosto ruim na boca, parece que comi terra.
Isto pode ter sido quando caímos, mas agora teremos que vencer estes sintomas ou contar toda a verdade.
Não isto não, papai seria muito rigoroso comigo, não me deixaria sair mais do castelo, e isto seria muito chato, e mamãe nunca mais nos deixaria sair para visitar nosso vizinho de Montgnac.
O brilho da luz ia perdendo força; nuvens finas encobriam o sol. Os contrastes fundiam-se em detalhes que eram mais nítidos ao olhar. O ruído de cascos batendo contra o solo anunciou a aproximação de cavalos, Condes Eric e Paulo Surotsev entraram em polvorosa gesticulando e falando alto:
- Imagina Cristina, tu não vai acreditar, o velho barão de Montgnac vai casar!
- Como assim, casar? Ele sempre disse que isto nunca ia acontecer na sua vida!
- Parece que cansou, o mensageiro acabou de me entregar este convite para a festa no seu castelo, daqui a três dias. E agora poderíamos jantar, já que estou faminto.
As Famílias Surotsev e La Fonte acabaram por jantar mais cedo do que o costume devido ao cansaço do dono da casa, por este motivo as famílias acabaram por recolherem-se aos seus quartos.
A noite parecia serena, estrelas no céu e uma leve brisa sopravam para amenizar o calor sufocante que assolava a região naquela época.
Mas à medida que se aproximava a noite, o céu começa lentamente a mudar de forma, alguns relâmpagos ao fundo do castelo começar a pronunciar a mudança do tempo. Uma matilha de lobos começa a uivar de maneira uníssona e continua. Rajadas de vento começam a denunciar a tempestade que se aproxima, relâmpagos mais intensos e a chuva acompanhado de raios e trovões acabam por colocar em polvorosa todos no castelo.
- O Castelo Maldito está iluminado, isto é um mau presságio, a condessa retoma os seus medos pelas histórias do Padre.
- Não seja boba, Cristina, isto é uma lenda! Eric parece vivamente irritado.
Apesar de não demonstrarem verbalmente a mesma opinião da dona da casa, todos ficam aterrorizados com a imagem que se projeta do prédio enfeitiçado. Embora à distância, distingue-se nitidamente a figura de um gigantesco tigre saindo e rugindo para fora do castelo, o seu som ajudado pelo vento chega longe para atemorizar de vez todas as pessoas.
Por volta das quatro horas da madrugada, o temporal amainou, o vento cessou, os lobos sumiram e o céu voltou a ser estrelado. Mesmo com a estabilização do clima, muitos ainda se permaneceram insones.
- Ninguém me convence que estes acontecimentos do tempo tenham a ver com as luzes e a figura grotesca que apareceu em Komedhor. Cristina volta a tocar no mesmo assunto, Eric já sem a mesma convicção de que sua esposa estava errada, apenas coça seu queixo e reflete se não deveria chamar o Padre Timon de volta a Gorki. Existiam muitas perguntas que ainda não haviam sido respondidas e ele iria à busca delas.
Eric selou o seu melhor cavalo e seguiu em direção a cidade para encontrar o religioso.
Eric volta para Gorki pela mesma estrada em sentido oposto, e pelo caminho o rastro de destruição o impressionava, arvores arrancadas pela raiz, galhos espalhados pelo campo e o impressionante foi ver a figura de um veado campeiro estraçalhado e partido ao meio. A horrível cena fez com que embrulhasse o estomago e náuseas recorrentes o fez descer do cavalo e vomitar, o que teria acontecido com o pobre animal? Seria responsabilidade daquela figura grotesca do tigre visualizado no meio do temporal?
Ele volta ao seu cavalo e dirige célere até o castelo com o coração aos pulos e com a respiração alterada.
- Eric o que houve? Cristina corre em direção ao marido aflita com o seu semblante turvado. Ele narra a todos a terrível experiência do deslocamento até a cidade e todos os acontecimentos que envolveram também o Padre Timon, ocultando a cena do animal.
O Clima de Terror modificou os hábitos e costumes do costume por dois dias, até que finalmente chegou o dia do casamento do Barão de Montgnac.
Utilizando um belo coche as famílias se deslocaram até o Castelo, distante três léguas dali para a cerimônia religiosa do enlace matrimonial.
Durante o deslocamento a maior curiosidade era: quem seria esta mulher tão maravilhosa que teria feito o barão desistir de sua solteirice? As respostas pareciam estar ali na frente quando, finalmente, chegaram a Montgnac. Um belo desfile de carruagens ornamentava o seu interior, um fluxo intenso de convidados e também de empregados do Barão dava a dimensão da festa. Seria um evento para esquecer os últimos acontecimentos nefastos que tinham acontecido à pitoresca Nice.
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