Era uma calma noite de Agosto. No Castelo de Bordelle, em Nice, a mesa era arrumada para o chá da noite, e a dona da casa observava cuidadosamente e pessoalmente os preparativos. Cristina Tuzov La Fonte era uma mulher chamativa em torno de seus trinta e seis anos, com rosto leve e suave, mantinha a serenidade; seus olhos azuis representava sua bondade extraordinária. Era nascida Baronesa Tuzov, e após casar com o belo conde Eric La Fonte tornava-se dona daquele castelo. O conde, no alto de seus trinta e oito anos, mantinha serenidade e autoridade para manter suas atividades a contento. Suas filhas Carol Trein e Érica, com 18 e 16 anos eram a essência que perfumava suas existências. Aquela era uma noite de muita expectativa, pois aguardavam com impaciência a chegada da família Surotsev.
- Quando que os Surotsev chegam??? Pergunta Carol Trein, que nos seus 18 anos recém feitos, aguardava sua amiga Fabiana.
- Devem chegar em breve, estamos esperando-os para 02 ou 03 dias. -responde distraidamente sua mãe Cristina.
Aquela seria mais uma noite de expectativa para Carol, que andava tendo alguns sonhos que muito a preocupava: sonhava com sua amiga Fabiana, no meio das chamas, pedindo ajuda!!!
No outro dia, o conde saiu cedo para tratar suas atividades, e a Condessa Cristina estava imersa em seus pensamentos, ultimamente estavam muito sombrios. A chegada de seus amigos de São Petersburgo ajudaria muito no alivio de suas péssimas impressões, desde que seu tio Ivan Tuzov morreu há 12 meses
As causas da morte nunca ficaram muito claras, pois ele foi encontrado no chão de seu castelo com uma expressão de terror na face; o médico que examinou o seu corpo atestou ataque cardíaco e encerrou o caso. A policia também não se interessou , uma vez que a mansão de Gorki era afastado da cidade e à beira de uma pequena ilhota isolada tida como mal-assombrada pela sua proximidade com o Castelo de Komedhor, esse sim tido com enfeitiçado.
Os gritos de suas filhas a tiraram de seus pensamentos:
- São eles, são eles!!!! Gritavam e pulavam Carol e Érica.
Ainda um pouco distante do castelo, o coche da família Surotsev vinha célere se deslocando.
- Ainda bem que chegamos, estou extenuado! Falou Paulo Surotsev.
- Você?? Acho que todos nós o estamos! Fala com firmeza Juliana Fornazier
Fabiana olhava em torno do castelo e nota a riqueza da paisagem; após passarem pela ponte sobre o rio Paillon começou a sentir alternadamente uma alegria e um medo profundo. Será que seus sonhos se tornariam verdade??? Será que Carol continuaria cavalgando com ela pelos campos que eram guarnecidos no norte pelos Alpes??? Olhava a colina do castelo que os obrigara a demorar mais pelo seu deslocamento, porque separava a cidade do porto. O ar do mediterrâneo soprava forte o suficiente para sentir o seu aroma característico.
Uma diminuição da velocidade a tirou dos pensamentos e a fez olhar para o castelo. Sim, agora estava próxima a sua chegada, e o seu coração começou a bater mais forte.
A acolhida alegre e festiva encheu o castelo de vozes e cumprimentos.
- Condessa, que alegria em vê-la novamente, já não agüentava sacolejar naquele coche! -Juliana Fornazier conversa animadamente com a Condessa Cristina.
- Ficamos muito alegres com sua visita, há muito que precisamos de companhias alegres em nosso castelo. A condessa fez um vinco na testa que a senhora Surotsev observou.
- Mas o que houve??? Quando estivemos a última vez há três anos, estava tudo tão bem!!! Agora depois de receber sua carta com o convite e principalmente com suas palavras, vejo que não me enganei quanto às impressões que tive. Juliana Surotsev observa uma contração no rosto da condessa confirmar sua desconfiança.
- Vários acontecimentos não têm nos deixado sossegar. A condessa olha para o lado para observar se tem alguém por perto, olha que as meninas estão longe conversando enquanto que Érica e Nympha estão brincando.
- Meu tio Ivan morreu em circunstâncias misteriosas no castelo de Gorki e há seis meses os pais de Eric também morreram. Cristina manifesta o pesar nas suas palavras. Louis, tio de Eric e padrinho de Érica, também vem a Bordelle para podermos nos encarregar de um legado que não nos agrada muito, porém teremos que ir lá para verificar o estado do castelo de Gorki, e ver o podemos fazer com ele.
- Castelo Gorki? Aquele lugar amaldiçoado??? Juliana fala com terror.
- Sim, como sou a única herdeira do tio Ivan, ela é minha herança, e vamos ver o que podemos fazer com ele.
Cristina se alegra ao ver a chegado do marido.
- Bom Dia!!!! O Conde cumprimenta os recém chegados, e começa a conversar com todos.
O Conde Eric era um homem alto, encorpado. A maneira como se comportava denotava que, apesar de tentar parecer alegre, uma grande tristeza o inundava, mas os seus grandes olhos azuis mostravam inteligência e energia.
Sentados à mesa, os visitantes e os donos do castelo conversavam com animação.
Passados dois meses da presença dos Surotsev no Castelo de Bordelle, uma carruagem parou ao lado do portão de ferro fundido do jardim do castelo, e logo o cocheiro ampara um cavalheiro com uma mala.
- Tio Louis!!! Eric estranha a expressão do visitante, indo ao seu encontro após o recado da criada.
- Eric , desculpe não tenho boas noticias para lhe dar!!! Louis trás algumas correspondências na mão e uma bengala na outra.
- Sabia da presença dos Surotsev aqui em Bordelle, por isto gostaria de conversar com você, antes de comunicar a eles. Louis olha para o sobrinho com um ar desolado.
Eric senta-se com o tio em um banco no jardim e o seu tio começa a relatar as más noticias.
- O que estarão falando lá o papai e o titio??? Carol parece muito inquieta com a cena
- Não sei, minha filha, mas provavelmente o seu tio assim o quis, senão já estariam aqui dentro. A condessa também estava surpresa.
- Venho de Paris, estive no Ministério do Exterior, o embaixador nos confidenciou noticias terríveis sobre o Império Russo. Louis toma um fôlego e continua a falar, o Ministro da Guerra morreu repentinamente, o seu substituto, o Barão Kozen assumiu e botou toda a Marinha de Guerra sitiando a cidade de São Petersburgo, ele forçou a cidade a se entregar e assim ter controle sobre toda a estrutura administrativa e política. Prendeu antigos colaboradores do ministério, confiscou propriedades e proibiu a volta de políticos e antigos apoiadores do Ministério da Guerra. Ele está exigindo de toda a obediência cega e direta a ele, deportando pessoas influentes da cidade para prisões na Sibéria.
- Isto é terrível!!! Eric sente um peso enorme no peito com a noticia.
- O pior é que o dizem que o Barão está agindo estranhamente, parecendo mais uma pessoa descontrolada do que somente um tirano.
Todos falam que sentem um estranho olhar quando o barão se aproxima, e após ele sair dos lugares, um ar pestilento permanente enoja todos que estão no ambiente. Ele seleciona pessoas fortes e saudáveis para acompanhá-lo no prédio onde está comandando a cidade. Esses jovens nunca mais são vistos.
Eric sente sua cabeça tontear, mas se mantém firme e continua ouvir o relato de seu tio:
- Algumas pessoas dizem que o barão some por longos períodos de tempo na semana e retorna aparentando um cadáver; porém depois de alguns dias, o seu viço e aparência voltam a ter de vitalidade.
- Tio, amanhã teremos que ir a Gorki, para ver o castelo, nos acompanha?? Não sei se estas noticias vão nos influenciar na nossa intenção de dar um destino ao castelo.
Louis e Eric entram na sala com o semblante carregado e imediatamente Eric chama Paulo para conversar em uma sala reservada. Louis tentando disfarçar, conversa animadamente.
- Como vão às novidades em Paris, tio??? Cristina fica curiosa sobre o assunto que Louis irá falar para disfarçar o seu mal-estar.
- Nada de novo, apenas coisas da política, mas eu trouxe alguns presentes para minha sobrinha favorita, Louis disfarça.
- Algum vestido? Carol pula na frente
- Não, vários vestidos e trouxe para todas!!! Louis pede para a condessa mostrar o conteúdo dos presentes para as meninas e se afasta para ir ao encontro na sala secreta.
- Como assim golpe??? Paulo se sente imobilizado pela noticia
Paulo, imóvel em sua cadeira ouve cada palavra como se fosse um golpe em seu rosto.
Louis irrompe na sala e entendendo o momento, coloca Eric a par da situação que está na sala e sua preocupação com a família Surotsev, e na sua impossibilidade de voltar para sua casa no momento.
- Paulo, Eric fala em tom grave, sabes que pode contar conosco e terá toda a minha hospitalidade para aqui residir enquanto não resolverem-se os tumultos em tua cidade. Poderás ficar conosco sem problemas e estaremos sempre em contato com a embaixada em Paris para ter noticias sobre o assunto.
Paulo apenas balbucia algumas palavras de agradecimento e sai da sala, visivelmente abalado.
Devido ao clima tenso instalado na casa o recolhimento das famílias aos seus quartos foi antecipado. Paulo, ainda sem acreditar ou ainda não querendo aceitar na gravidade do momento, resolve contar a sua esposa as más noticias vindas de Paris.
Juliana Fornazier perplexas com as novidades olhou para seu marido e disse:
- E agora ??? o que será de nós????
- Eric nos ofereceu sua hospitalidade durante o período em que haja tumultos por lá, mas eu sinceramente não sei.
Com a cabeça nimbada de dúvidas e pressentimentos ruins, o casal tentou conciliar o sono, fato que se tornou impossível pelo uivo de alguns lobos adiante na colina, porém o cansaço foi maior e sono pesado como chumbo caiu sobre eles.
Após um dia tenso, a manhã foi mais tranqüila, apesar da surpresa do comunicado do prolongamento da permanência dos Surotsev em Bordelle. As únicas satisfeitas com aquela situação atípica foram Fabiana, Carol, Nympha e Érica.
O Fantasma de Gorky também pairava sobre eles: seria viável seguir visitá-lo naquela semana ou então esperar mais algum tempo? Os uivos dos lobos naquela noite também não eram um bom sinal, muita noticia ruim poderiam vir acompanhados pelos lobos, já que eles sempre apareciam juntos com más noticias -a última foi com a morte do tio da Condessa Cristina.
Gorky, Komedhor, Barão Kozen, começaram assombrar as pessoas em Bordelle, será que aqueles eventos estariam interligados???
Ainda ressoava nos ouvidos da Condessa as histórias que sua mãe contava sobre as experiências que seu tio experimentava em Gorki, e que sempre foram muito sombrias: às vezes ele ficava lá por dias ou semanas inteiras sem aparecer em público. Porém Eric não era muito impressionado com estes fenômenos, e vivia insistindo que deveriam transformá-lo em uma bela vivenda ou em uma casa de verão, já que ficava em meio a uma bela paisagem, visto que as imagens da pequena ilhota não davam o aspecto terrível que lhe imputavam. Afinal como ele mesmo dizia: Fantasmas não Existem!!!!
Um calafrio percorreu a espinha da condessa, um grande mal estar e um medo muito grande acabou resultando em um desmaio no local onde se encontrava.
Acudida prontamente pelos empregados e colocada na cama por seu marido, Cristina apenas balbuciava: Komedhor não!! De novo, não!!!
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